Introdução
Eu moro fora do Brasil desde 2017. Por isso, vira e mexe eu recebo mensagens de pessoas querendo saber com é trabalhar fora e o que elas precisam fazer para também conseguir um trabalho no exterior.
Obviamente, trabalhar fora significa se comunicar em outro idioma. Mas quando você trabalha para uma empresa global, como é o meu caso, é bastante provável que inglês seja o idioma oficial da empresa.
Eu comecei minha jornada em 2019 na nextbike, trabalhando como Backend Engineer. Mas em novembro de 2021, mudei para a GraphCMS para trabalhar como Product Manager, trabalhando remotamente com pessoas de mais de 20 nacionalidades diferentes.
Por isso, neste artigo eu vou:
- contar sobre minha experiência no exterior
- como é realmente falar inglês em outro país
- quebrar alguns mitos sobre o nível de inglês necessário
- explicar porque agora é a melhor hora de mandar currículo
- e, por fim, te dar algumas dicas para praticar e melhorar seu inglês
Como tudo começou
Após passar um ano e meio morando em Portugal, eu e minha esposa decidimos nos mudar para outro país na Europa.
Nosso principal objetivo era ter uma real vivência no estrangeiro. E como em Portugal o idioma é bastante parecido com o nosso (sim, não é igual!), a gente quase não tinha oportunidade para praticar inglês.
No início de 2019, nós viramos nômades digitais e iniciamos uma longa viagem que duraria 6 meses, rumo à Amsterdã, na Holanda. Porém, quase no final da viagem, nós acabamos mudando de ideia e fomos parar em Leipzig, na Alemanha.
Nós chegamos em Leipzig em Agosto de 2019 e no mês seguinte eu consegui um emprego como Backend Engineer na nextbike, a maior empresa de bicicletas compartilhadas da Alemanha, e uma das maiores da Europa.
Ainda durante a viagem, eu tive diversas oportunidades para praticar inglês. Afinal, nós passamos por diversos países que falavam diferentes idiomas, mas inglês era o único que a gente conseguia se comunicar. Exceto na Espanha, onde conseguimos nos comunicar em Portunhol.
Meus primeiros meses trabalhando em inglês
Eu fui um dos primeiros funcionários estrangeiros na equipe de tecnologia da nextbike. Além de mim, havia um paquistanês e um turco. Por isso, o idioma oficial do departamento passou a ser inglês.
Até eu começar a trabalhar na nextbike, eu achava que eu tinha um nível de inglês muito bom. Porém, eu estava enganado. Explico.
No Brasil, a gente vive dizendo que “na Europa todo mundo fala inglês”. Realmente, muita gente fala. Mas o que eu não sabia - e só fui descobrir quando entrei na nextbike -, é que cada um fala inglês de um jeito diferente!
A influência do sotaque
O principal desafio de se comunicar em inglês com pessoas não-nativas no idioma é o sotaque, pois eles variam bastante. Muita gente na Alemanha nunca teve vivência fora do país, então fala o inglês que aprendeu na escola.
O idioma materno - ou seja, alemão -, influencia bastante na pronúncia do inglês. E não apenas o alemão em si, como também os sotaques regionais.
Sabe os diferentes sotaques que temos pelo Brasil?
Acontece exatamente a mesma coisa com alemães falando inglês. Alguns falam com mais clareza, mas tem muita gente que tem um sotaque tão carregado que é muito difícil de compreender.
Isso também acontece com pessoas de outros países, como era o caso dos meus colegas do Paquistão e Turquia. E além deles, tinham colegas de outros departamentos de países como México, Índia, China, etc. Todos falavam inglês, com influência do sotaque de seus próprios idiomas e, consequentemente, uma pronúncia muitas vezes difícil ou até impossível de compreender.
E vocês podem ter certeza que eles também tinham de me compreender, com meu inglês com sotaque de carioca. 😅
Já na GraphCMS, eu também enfrento dificuldades, pois trabalho com pessoas de mais de 20 nacionalidades diferentes, incluindo falantes nativos de inglês.
E mesmo nesse caso, também é complicado: os americanos e australianos falam muito rápido, com bastante gírias ou expressões locais; os britânicos têm um sotaque bastante carregado e até a pronúncia das palavras é diferente; os indianos têm sotaque e pronúncia bem peculiares, por influência dos idiomas e dialetos locais (geralmente, Hindi).
Como falar inglês sem medo (e sem julgamento)
No Brasil, a gente tem uma cultura de julgar as pessoas por qualquer coisa. E isso também acontece com falar outro idioma. Por isso, muitos de nós sente medo de falar inglês (ou outro idioma) e ser julgado por quem está do outro lado.
Uma das primeiras coisas que eu aprendi com os gringos é que a maioria não dá a mínima sobre a qualidade do seu idioma falado. Eles simplesmente falam, sem medo de ser feliz, mas fazem o possível para serem compreendidos.
E quem ouve também faz todo o possível para entender a mensagem. Ou seja, ambos os lados estão comprometidos em se comunicar. Ponto!
Eu cansei de conversar com alemães, indianos, mexicanos, etc, com pronúncia de inglês super difícil de compreender, mas todos sempre foram muito pacientes para que a comunicação ocorresse com sucesso.
Portanto, se você tem vergonha do seu inglês, se você tem medo de ser julgado, você está perdendo seu tempo e muitas oportunidades!
Inglês no trabalho remoto
Em novembro de 2021, eu troquei de emprego, de carreira e até de casa.
Eu comecei a trabalhar na GraphCMS como Product Manager Integrações. Por ser um trabalho remoto, me mudei de Leipzig para a pequena Seeshaupt, uma cidade com menos de 4 mil habitantes, a 40 minutos ao sul de Munique.
Aqui no interior, a maioria das pessoas só fala alemão. Acabou sendo oportuno, pois está me forçando a praticar o alemão. E, por isso, eu falo bem menos inglês.
Eu já estava trabalhando remotamente desde o início da pandemia. Com isso, passava a maior parte do tempo me comunicando por mensagens. Escrever em inglês é muito mais fácil do que falar, mas o lado ruim é que passei a praticar menos o inglês falado e ouvido.
Na GraphCMS não é muito diferente. Exceto que pela minha posição atual, eu faço mais reuniões do que quando era programador, então falo mais do que antes. Mas ainda assim, estimo que fale no máximo 3h por dia, considerando um dia cheio de reuniões.
E porque estou falando isso?
Porque se você for trabalhar remotamente para uma empresa do exterior, a menos que sua profissão exija, é bastante provável que você passe mais tempo escrevendo e lendo em inglês do que falando e ouvindo.
No entanto, mesmo que você só fale 1 ou 2 horas por dia, você já verá evolução no seu primeiro mês de trabalho.
A melhor hora para começar é HOJE
Eu conheço muita gente que não se candidata para vagas no exterior porque acha que o inglês não está bom o suficiente. E a grande verdade é que morando no Brasil (ou em Portugal), e sem praticá-lo constantemente, seu inglês nunca estará bom o suficiente.
Sem prática, não há evolução.
O que muitas dessas pessoas não percebem - e se você está lendo esse artigo eu presumo que você seja uma delas - é que a própria entrevista faz parte do processo de evolução do idioma.
As entrevistas duram de 45 a 60 minutos, podendo se estender por até 2 horas, dependendo da etapa no processo. Se você fizer pelo menos 1 entrevista por semana, no final do primeiro mês você já estará com inglês muito melhor do que agora.
Você dificilmente vai passar no primeiro processo. Na verdade, é bastante provável que demore alguns meses até você conseguir.
Pra você ter uma ideia, quando eu decidi sair da nextbike, eu demorei 6 meses pra conseguir o trabalho na GraphCMS. Seis fucking meses!
Eu conheço um monte de gente que também passou por isso. Gente que mora fora há mais tempo que eu, gente que já morou nos EUA, gente que fala inglês e alemão fluente. E mesmo assim, demorou meses!
Veja, eu não estou falando isso pra te desencorajar. Muito pelo contrário, estou te contando a realidade e que mesmo que demore, será uma boa oportunidade para praticar mais. E quando você começar a trabalhar, certamente já terá um nível melhor que agora.
Entendeu?
Como falar inglês com eficácia
Você tem que assistir ao vídeo abaixo. Ele mudou a minha vida e também vai mudar a sua! Então veja antes de seguir com a leitura.
Eu assisti esse vídeo pela primeira vez tem uns 4 anos. E foi graças a ele que tomei coragem de procurar meu primeiro emprego no exterior.
E até hoje, eu sigo a ideia central desse TED, que é:
- Você não precisa falar inglês fluentemente
- Você não precisa falar com eloquência
- Você não precisa ter uma pronúncia perfeita
- Você só precisa ser eficaz!
Mesmo que você fale errado, gramaticalmente falando, ou pronuncie errado, se a pessoa do outro lado tiver um bom nível de inglês ela vai conectar os pontos. E mesmo que ela não tenha, se ela não te entender, basta repetir com calma.
Eu erro o tempo todo. Não apenas falando, como também escrevendo. Se a pessoa do outro lado não entender, eu repito até ela entender.
É errando que se aprende.
Eu uso Google Translate, DeepL, e Grammarly o tempo todo. Toda hora vou no Google procurar como se escreve algo em inglês.
Sem contar as siglas! Toda hora alguém escreve WDYT, TIL, ASAP, RTFM...
Poxa, eu moro há 5 anos fora do Brasil e faço isso até hoje. A maioria dos brasileiros que moram fora também fazem isso. Porque você não pode também?
Então, lembre-se da dica do vídeo (você assistiu, né?): seja eficaz!
Outras formas de praticar inglês
Seu principal objetivo é conseguir um trabalho no exterior. Por isso, sua dedicação não pode se limitar ao processo seletivo. Até porque isso é algo estressante e você também precisa praticar de um jeito mais suave e divertido.
Então aqui vão algumas dicas:
- Aumente sua exposição ao idioma: coloque tudo que você tiver contato frequente em inglês, como o sistema operacional do seu computador e do seu celular, a conta do programa de streaming (Netflix, Apple+, etc), suas contas online e redes sociais (Email, Facebook, Twitter, Instagram etc). Quanto maior for sua exposição ao idioma, melhor.
- Assista filmes e séries, com idioma e legendas em inglês: essa dica aqui é meio óbvia, né? Pois é, mas faça isso de 1 a 2 horas por dia, que é a duração de um episódio ou de um filme. Aliás, taí uma boa desculpa pra maratonar!
- Paquere em inglês: gringos a-do-ram conhecer e conversar com brasileiras e brasileiros, mesmo que seja só pra jogar conversar fora. Sério, eles gostam demais! Essa é a melhor forma pra você praticar inglês! E também acaba sendo uma grande oportunidade de fazer networking!
Conclusão
O maior desafio para conseguir um trabalho no exterior é falar inglês. Porém, ao contrário do que muitos brasileiros pensam, nem sempre é necessário falar inglês fluentemente para conseguir isso.
Pela minha experiência trabalhando e morando na Alemanha, e lidando com gente de diversos lugares do mundo, o mais importância é falar inglês com eficácia. É se comunicar com clareza. E sempre que necessário, repetir.
Por isso, eu sugiro que você comece agora mesmo a enviar currículo para vagas no exterior, aproveitar as entrevistas como forma de praticar inglês, além de seguir algumas dicas para praticar além das entrevistas, sem pressão.
Eu espero que ele tenha te ajudado e te desejo toda sorte e sucesso do mundo em sua jornada em busca do um trabalho no exterior.
E se tiver dúvidas ou outras dicas, deixe seu comentário no post do Instagram!